A sua vida universitária está a todo vapor: você encontrou uma boa faculdade, começou o seu curso e se adaptou à rotina de provas e trabalhos. Porém, às vezes se sente frustrado por causa do excesso de teoria e da falta de prática da profissão? Então você precisa conhecer o Movimento Empresa Júnior (MEJ).
Se você nunca ouviu falar sobre o assunto, então acessou a página certa! Neste post, vamos explicar o que é o MEJ e como ele começou no Brasil. Também vamos mostrar como ele funciona e quais habilidades você pode desenvolver dentro de uma empresa júnior.
Preparado? Então pegue uma cadeira e um bloco de notas, porque a conversa vai ser extensa e repleta de informações importantes.
O que significa MEJ?
O Movimento Empresa Júnior é um empreendimento que não tem fins lucrativos, mas no qual todos saem ganhando. A sua organização é feita por estudantes de graduação e sua orientação, por professores.
Nela, os estudantes podem realizar projetos e prestar serviços para outras empresas, aprendendo na prática a exercer a profissão para a qual estão se formando.
É uma oportunidade incrível de empreender na faculdade. Afinal, quem participa do MEJ passa a entender como se organiza uma empresa. Também é uma grande vantagem para a faculdade — que ganha em visibilidade — e para os clientes — que podem ter acesso a um serviço de qualidade por um baixo custo.
Como o Movimento Empresa Júnior chegou ao Brasil?
Iniciado em Paris, em 1967, por alunos da L’École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales, o MEJ cresceu na Europa e foi trazido para o Brasil em 1987 por João Carlos Chaves, diretor da Câmara de Comércio Franco-Brasileira.
A 1ª empresa júnior no país nasceu na Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas.
Hoje, de acordo com dados da Brasil Júnior, Confederação Brasileira de Empresas Juniores, contamos com 438 EJs que realizam mais de 4,5 mil projetos por ano. Desses serviços, 41,6% foram realizados para micro e pequenas empresas. Assim, o MEJ também auxilia a fomentar o empreendedorismo fora dos muros da faculdade.
Como funciona uma empresa júnior?
Tal como um negócio tradicional, a empresa júnior se organiza em setores (presidência, marketing, recursos humanos etc.). A diferença é que todos os cargos são ocupados por estudantes universitários eleitos por um período determinado (pode ser semestral ou anual).
O papel do professor é apenas de orientar e acompanhar os projetos executados.
Quem pode participar do MEJ?
Qualquer aluno de graduação pode participar de uma empresa júnior, mas existe um processo de seleção bastante criterioso. Nele é avaliada a capacidade de empreender, a proatividade e a habilidade em trabalhar em equipe do candidato.
É bom lembrar que não há remuneração para os participantes. A experiência adquirida vai além do financeiro — um dos muitos benefícios do trabalho voluntário.
Como abrir uma empresa júnior? 5 passos fundamentais
Na sua faculdade não existe empresa júnior? Então é hora de arregaçar as mangas! Para ajudá-lo nessa missão, falaremos de forma resumida das 5 etapas essenciais.
Essas informações foram retiradas do site Brasil Júnior, que reúne integrantes do MEJ de todo o país. Lá, você poderá encontrar 4 e-books com orientações detalhadas para que consiga tirar seu projeto do papel.
1. Reúna interessados
O trabalho em equipe é fundamental desde os primeiros passos da empresa júnior. Sendo assim, converse com os seus amigos sobre o MEJ.
Não é preciso muita gente no início, pois os processos podem ficar confusos: 5 pessoas é o número ideal, porque assim haverá um responsável para cada área básica da empresa:
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administração e finanças;
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gestão de pessoas;
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marketing;
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presidência; e
-
projetos.
Também é o momento de procurar professores interessados em acompanhar o projeto.
2. Elabore um plano de negócios
Com a equipe inicial formada, é hora de começar do 0. Estude sobre o MEJ com o grupo para entender o seu funcionamento e procure outras empresas juniores para observar a sua rotina e avaliar os seus pontos positivos e negativos (no mundo dos negócios, isso é chamado de benchmarking).
Feita essa observação inicial, você estará pronto para montar o plano de negócios. Para estabelecer a base desse documento, respondam as seguintes perguntas:
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quem é o cliente?;
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que produto/serviço será oferecido?;
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que característica torna a empresa júnior única no mercado?;
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que problemas a empresa júnior ajudará o cliente a resolver?;
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como o cliente em potencial conhecerá a proposta da empresa júnior?;
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quanto o cliente em potencial está disposto a pagar pelo produto/serviço?;
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que recursos (material e pessoal) serão precisos para começar?;
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quais são as atividades-chave da empresa júnior (aquelas essenciais para que o cliente se sinta satisfeito)?;
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que parcerias serão fundamentais para fazer a empresa júnior funcionar?; e
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quais são os custos para entregar o produto/serviço da empresa júnior?
As respostas para essas questões serão o pontapé para o plano de negócios. A equipe deve eleger uma pessoa responsável para colocar tudo no papel: criar um documento e registrar todos os encontros em ata (veremos a importância desse registro mais a frente).
Nesse momento de estruturação, a presença de um professor que possa orientar e acompanhar todo o processo é muito importante. Ele também vai poder ajudar no próximo passo: conquistar o apoio da faculdade.
3. Apresente o projeto para a faculdade
As instituições de ensino superior não são obrigadas a aceitar uma empresa júnior nas suas dependências, muito menos custeá-la. Esse será um trabalho de convencimento junto ao coordenador do seu curso e à administração da faculdade. O grupo precisa se mostrar coeso e responsável — fato que pode ser atestado pelo professor orientador.
Preparem-se para essa reunião. Façam uma apresentação do plano de negócios e o levem também por escrito. Tenham o cuidado de saber quantas pessoas vão participar do encontro para ter o número certo de cópias.
Estejam preparados para responder perguntas de forma coerente e sem nervosismo e para mostrar as vantagens de se ter uma EJ do seu curso. Assim, a equipe vai provar ter capacidade para levar adiante o projeto proposto.
4. Consiga um espaço
Para começar a funcionar, é primordial ter um local que disponha de uma infraestrutura básica. Geralmente, esse lugar é cedido pela faculdade (esse pedido precisa estar claro na reunião de apresentação do projeto!).
Mesmo que o serviço seja on-line ou que dê para fazer os projetos de casa, é preciso que haja um local para reuniões, isto é, para receber os clientes e para se estabelecer como empresa júnior.
É bom saber que, para conseguir o selo de empresa júnior, é necessário comprovar com fotos a existência de um espaço físico para o seu funcionamento. Esse e outros quesitos são determinados pelo Conceito Nacional de Empresa Júnior.
5. Regularize a empresa júnior
O passo seguinte para a empresa júnior funcionar é obter o CNPJ. Para isso, vocês vão precisar elaborar um estatuto. Nesse momento, o grupo pode pedir ajuda de outras EJs ou fazer download de modelos disponíveis no site da confederação.
Esse documento precisa ser aprovado pelo grupo em uma reunião, que será o dia da fundação da EJ. A ata do encontro e o estatuto devem ser registrados em cartório.
Feito isso, já estão aptos a obter o CNPJ. O site da Receita Federal disponibiliza um curso com tudo o que é necessário para ter o cadastro registrado. Com esse documento em mãos, já é possível abrir uma conta bancária, começar a tocar o negócio e aprender na prática como é ser um empreendedor.
Quais são as 8 habilidades que você pode desenvolver ao participar de uma empresa júnior?
O caminho percorrido até aqui já demandou uma série de competências e, se você continua lendo este post, significa que se considera capaz de enfrentar esse desafio. Isso é ótimo!
Algumas qualidades necessárias para participar do Movimento Empresa Júnior já estão presentes. No cotidiano do negócio, elas serão lapidadas e outras habilidades desenvolvidas.
1. Liderança
Estar a frente de uma equipe não é tarefa fácil. E não é sempre que aparece a oportunidade de estar em um posto de chefia. A empresa júnior oferece essa possibilidade, seja na coordenação de setores, seja na cadeira da presidência. Uma vez lá, você vai aprender a lidar com pessoas diferentes e aproveitar os seus potenciais para alcançar os objetivos do projeto.
Você também vai ter que mediar conflitos, motivar a equipe, criar um ambiente propício para novas ideias e, acima de tudo, ser um exemplo para os seus subordinados. Ufa!
Não há lugar melhor que a graduação para desenvolver e aprender a gerenciar essas responsabilidades.
2. Trabalho em equipe
Em um mundo tão conectado como o nosso, é preciso entender que não se trabalha sozinho. Porém, organizar uma ação em equipe vai muito além de juntar um grupo para realizar um determinado projeto.
É preciso respeitar individualidades, saber ouvir e se fazer compreendido, ceder quando necessário e confiar nas habilidades do outro. No trabalho em equipe é como um time: cada um joga na posição que demonstra maior talento. Assim, os pontos fortes de um vêm para sanar as dificuldades de outro.
No entanto, da mesma forma que no esporte, é preciso muito treino para que o grupo seja de fato entrosado. A empresa júnior é o espaço ideal para aprender a fazer parte da engrenagem.
3. Relacionamento
Já que falamos em trabalho em equipe, vamos a outra habilidade cultivada no MEJ: relacionamento. Dentro da empresa, encontramos calouros, que acabaram de chegar, e veteranos, que já adquiriram experiência no trabalho.
Para compartilhar conhecimento, é preciso humildade para saber ouvir e perspicácia para estar aberto a novas ideias. Também é bom lembrar que os seus colegas de EJ hoje podem ser a sua fonte de indicação de emprego amanhã.
Você pode ter boas notas, estar por dentro das carreiras em alta. Porém, se não tiver uma boa rede de relacionamentos (também conhecida como network), corre o risco de ser um talento enterrado na areia.
Além dos companheiros de trabalho, a EJ vai colocá-lo em contato com clientes, professores e, quem sabe, futuros empregadores!
4. Prática profissional
A formação acadêmica é imprescindível para a sua carreira, mas aliar teoria e prática ainda na faculdade pode ser aquele diferencial que fará o seu currículo se destacar na multidão. A empresa júnior abre ao universitário essa possibilidade de exercitar o que aprendeu, testar modelos de atuação, inovar e ir além da sala de aula.
5. Consciência social
O MEJ orienta os seus integrantes a dedicar parte do tempo da empresa a projetos que gerem impactos positivos no meio ambiente e na sociedade.
Mais do que uma tendência empresarial, a responsabilidade social é a grande necessidade do milênio. Além de ser parte de uma comunidade global, empenhada em encontrar soluções sustentáveis, você vai desenvolver projetos que podem transformar a vida de muitas pessoas.
Essa consciência tem sido extremamente valorizada em empresas de ponta. Se você fizer parte de uma empresa júnior, não deixe de apontar no seu currículo os projetos socioambientais que ajudou a desenvolver.
6. Autocontrole
Quem nunca sentiu aquele frio na barriga ao participar de um processo de seleção? Você vai passar por isso na empresa júnior mais de uma vez: para fazer parte da equipe, candidatar-se a um posto gerencial, apresentar um projeto importante para um novo cliente…
A boa notícia é que, a medida em que vivencia situações que causam ansiedade, mais o autocontrole é cultivado. Você vai entrar em contato com os seus sentimentos, conhecer os seus sintomas (insônia, mãos suadas, pernas inquietas etc.) e encontrar meios de controlar as suas emoções em situações que exijam uma postura profissional.
7. Responsabilidade
Todo empreendimento é uma jangada. Os bons resultados só aparecem de fato quando todos remam em uma mesma direção e mantêm o equilíbrio. Em outras palavras: é preciso ter consciência de que o que você faz ou deixa de fazer impacta a EJ como um todo.
Essa motivação é que desenvolve o senso de responsabilidade, uma habilidade valiosa não só para o mundo dos negócios, mas para a vida como um todo.
A responsabilidade ajuda a manter o foco, fazer os sacrifícios necessários quando preciso e se compreender como parte importante de um grupo. Essa é uma característica que vale ouro no mercado de trabalho e pode ser determinante para o seu crescimento em qualquer empresa.
8. Espírito empreendedor
Na empresa júnior, você vai perceber que ter o seu próprio negócio exige trabalho duro, mas não é um bicho de 7 cabeças. Empreender não significa simplesmente ganhar dinheiro. Isso é consequência de um olhar transformador, capaz de enxergar os problemas e encontrar soluções de forma a impactar a sociedade.
Além desses valores, na EJ você vai conhecer de perto técnicas gerenciais que podem garantir a sobrevivência de um negócio. Uma Pesquisa do IBGE apontou que grande parte das empresas brasileiras fecha após 5 anos. Esse abandono do mercado é bastante relacionado ao pouco conhecimento de gestão por parte dos empreendedores.
Se o seu sonho é ser dono do seu próprio negócio, fazer parte de uma EJ será fundamental para construir a sua base de conhecimentos sobre gestão e mercado.
Somando todas as habilidades que já apresentamos, você estará preparado para ser um profissional qualificado, independente e capaz de alçar grandes voos.
Quais são os mitos sobre o MEJ que você deve esquecer?
Até agora, vimos o quanto é produtivo fazer parte do movimento empresa júnior durante a faculdade e o quanto introduzi-la em uma instituição de ensino superior exige responsabilidade, comprometimento e esforço dos envolvidos. Porém, também precisamos conversar sobre algumas coisas que dizem por aí sobre o MEJ.
Na verdade, a maioria dos mitos que se criam em torno da empresa júnior mostra o desconhecimento dos processos e do funcionamento das EJs. Esse é um exemplo clássico para ilustrar o termo “preconceito” — que, segundo o dicionário, é uma ideia sem fundamentação lógica ou crítica, formada de maneira antecipada.
Vamos, portanto, dedicar um tempo para desmistificar algumas frases que você pode já ter ouvido por aí. Veja só:
Não vale a pena porque é trabalho voluntário
Sabemos o quanto é bom ter aquela graninha extra. Ela dá aquela sensação de independência e de poder de decisão. Isso pode até fazê-lo balançar ao se deparar com um estágio remunerado (mesmo fora da área que quer atuar) e a empresa júnior. Porém, esse é o momento de pensar a longo prazo.
O estágio pode trazer um benefício imediato, mas a moeda da EJ tem maior valor: aprender na prática, ter acesso à sua área de atuação e se capacitar para empreender não tem preço.
Além disso, ainda existem os treinamentos de capacitação para cargos e projetos, o intercâmbio de conhecimento com professores e alunos de diferentes níveis, a convivência interdisciplinar com juniores de outros cursos… Esse saldo nunca será debitado da sua conta bancária.
A EJ exige experiência prévia
O que vale mais: uma pessoa cheia de conhecimento técnico, mas incapaz de trabalhar em equipe e sem humildade alguma para aprender, ou um candidato inexperiente, recheado de proatividade e vontade de trabalhar?
Para a empresa júnior, o 2° perfil vale mais. É claro que a experiência é um fator muito positivo, mas existem outros aspectos que são tão ou até mais importantes para a equipe.
No processo de seleção da EJ, alunos dos períodos iniciais são tão relevantes quanto os que já estão prestes a se formar. Essa dinâmica faz parte do DNA do movimento. Não há como promover interação e intercâmbio de experiências se todos estão em um mesmo patamar.
Só são feitos projetos simples
Existe uma lógica simplista que leva muitas pessoas a pensarem que, pelo fato de a empresa júnior ser totalmente gerida por graduandos, só são realizados projetos simples.
Na verdade, a capacitação constante é um dos pilares do MEJ e, por isso, não faz sentido algum deixar de buscar desafios cada vez maiores.
Também é bom lembrar que o trabalho é orientado por professores, que estão lá para ajudar nas tarefas complexas. Além disso, a EJ conta com a parceria de empresas, instituições e, inclusive, de outras EJs, que muitas vezes trabalham em conjunto para atender grandes projetos.
Não ajuda a entrar no mercado de trabalho
Depois de termos explicado como a EJ ajuda a desenvolver a sua rede de relacionamentos e o diferencial que ela pode representar no seu currículo, esse mito soa quase como piada. De qualquer forma, vamos aproveitar para reforçar o ponto.
O grande diferencial de uma empresa júnior é justamente que ela lida com o mercado de trabalho de forma direta. E lá você não vai ser o estagiário, muitas vezes relegado a um papel que não condiz com a sua formação; vai ser o contato direto com o cliente ou até o responsável pelo projeto.
Essas experiências são sempre bem-vistas pelos profissionais de recursos humanos, responsáveis pela contratação de novos talentos nas empresas.
Qual currículo de recém-formado tem mais peso: um com boas notas, mas com o item experiência profissional em branco, ou um recheado de projetos desenvolvidos, inovações e desenvolvimento de uma carreira dentro da empresa júnior? Esse argumento por si só já desmente o mito de que a EJ não ajuda a entrar no mercado de trabalho.
Só que tem mais: como já dissemos, uma das grandes vantagens de participar desse empreendimento universitário é construir a sua network desde cedo. É a oportunidade de ter colegas veteranos, professores e clientes que acompanham o seu trabalho e conhecem de perto as suas habilidades.
Preparado para fazer parte do Movimento Empresa Júnior?
Chegamos ao fim. O texto foi extenso, mas procuramos reunir em um só lugar tudo o que você precisa saber sobre o MEJ. Explicamos o que é, como ele veio para o Brasil, como funciona e quem pode participar.
Trouxemos ainda um passo a passo para começar uma empresa júnior do 0. Também fornecemos as bases para que você seja capaz de avaliar os prós e os contras de fazer parte dessa iniciativa.
De posse de todas essas informações, você pode analisar se tem o perfil para embarcar no Movimento Empresa Júnior, a coragem necessária para dar esse passo adiante na sua vida acadêmica e, assim, tornar o seu processo de aprendizagem mais rico e desafiador.
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